O número dos “sem-igreja”. O que antigamente chamávamos de “desviados” ou “ex-cristãos” agora chamamos de “desigrejados”.
Essas pessoas ainda consideram que vivem a fé em Cristo, mas que podem se dar ao luxo de desprezarem a Igreja.
Essas pessoas ainda consideram que vivem a fé em Cristo, mas que podem se dar ao luxo de desprezarem a Igreja.
Os desigrejados defendem que a fé cristã pode ser exercida fora da comunhão eclesiástica. É uma espécie de individualismo radical manifesto como a “comunhão sou eu” ou “eu tenho em comum comigo mesmo”.
A igreja nunca foi e nunca será (nesta terra) um ambiente de notáveis cidadãos perfeitos.A igreja não é uma reunião de anjos, mas sim uma reunião de pecadores em busca de redenção. Sim, há comunidades melhores e piores, mas você nunca encontrará uma perfeita.
Portanto, a busca pelo “cristianismo autêntico” é nobre, mas quando esquecemos que ainda estamos no mundo podemos mergulhar em uma espiral de decepção com a instituição chamada igreja. A maior prova que a igreja não é perfeita é o nosso espelho. Ora, se a igreja é formada de homens, logo…
Portanto, se eu me tornar um desigrejado porque só vejo imperfeições nas instituições, logo sou duas coisas: a) um idealista que não pisa o pé no chão e ignora a própria imperfeição ou b) alguém que usa isso como desculpa para justificar o seu abandono da fé com ares de heroísmo e zelo pela “essência do cristianismo”.
Quando leio o final do Sermão do Monte (cf. Mateus 7. 24-27) fico a pensar que o fenômeno dos desigrejados é mais uma consequência do esvaziamento do púlpito cristão associado aos pressupostos contemporâneos.
É o casamento perfeito entre uma igreja divorciada do compromisso doutrinário com a cultura da egolatria.
É a insensatez com ar de militância e sabedoria.
Além disso, é uma forma de dizer “eu sou igreja”, mas eu não preciso compartilhar com ninguém. Infantil? Sim, a infantilização é marca crescente na sociedade.
A Igreja Cristã sempre teve em seu meio pessoas que a deixaram. Alguns com sérias justificativas e outros nem tanto. O que temos de novo é o não-reconhecimento do abandono.
Hoje, os desigrejados acreditam que o rompimento completo com qualquer igreja institucionaliza ou um grupo eclesiástico não-institucionalizado é revolucionário. Assim, para eles, o romper com a igreja visível é abraçar sinceramente a Igreja invisível.
É bem verdade que precisamos romper com muitas instituições para não perdemos o foco de Cristo.
É também verdade que muitas igrejas institucionalizadas mais nos afastam do que nos aproximam do Evangelho.
Tudo isso é verdade.
Mas é um retumbante exagero achar que é possível viver a Igreja invisível e não buscar um grupo para compartilhar a comunhão cristã.
No quadro abaixo temos as principais causas do movimento dos “desigrejados”. Vejamos:
1. Acreditar, por ingenuidade ou conveniência, que existem igrejas perfeitas e, portanto, o desigrejado precisa abandonar as comunidades imperfeitas.
2. Uma baita dose de orgulho. A maioria dos desigrejados acusam as comunidades cristãs como ambientes hipócritas. Será que eles são a essência da transparência e da sinceridade?
3. A Síndrome de Elias é outra explicação para o crescimento dos desigrejados. Muitos acham que são o único remanescente justo que sobrou neste planeta.
4. Abraçar radicalmente o individualismo como uma forma de “comunhão comigo mesmo”. O homem é essencialmente social e com isso não quero dizer que devemos abraçar coletivismos.
5. O movimento é parte, também, da cultura evangelical emergente. Hoje, muitos acham que falar de Deus e de artes enquanto tomam café no Starbucks é um exercício de culto e a formação de uma igreja.
6. As mídias são ótimas ferramentas de divulgação do Evangelho, mas alguns substituíram o ambiente eclesiástico pelos cultos eletrônicos. Ora, é fácil ser “membro” de uma igreja em que eu não preciso compartilhar “o que tenho em comum” com ninguém!
7. As mega-igrejas são apontadas como uma das causas desse “fenômeno desigrejado”. Ele pode até ir uma vez ou nunca numa dessas igrejas enormes e ninguém notará a sua ausência no domingo seguinte.
Na divulgação do Censo 2010 veremos como o grupo dos desigrejados apresentará o maior crescimento no quesito “religião”.
Talvez não seja o desafio do século, mas certamente é o desafio da década para a igreja contemporânea no Brasil e nos países ocidentais.
Mas, sinceramente falando, poucos foram os movimentos dentro da igreja na história pobre de substância do que o movimento dos desigrejados.
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